Creio ser comum que durante nossa vida aconteçam fatos
que testem nossa fé. Embora saibamos que abraçar a fé cristã significa escolher
enfrentar os desafios cotidianos, crendo que somos responsáveis por guiar
nossas vidas com o auxílio do Criador, as dificuldades que permeiam nossa
existência parecem questionar o quanto somos ou não agraciados por Deus.
Os
problemas, inevitáveis no nosso percurso parecem nos propor questões como
“Estou eu seguindo realmente o deus verdadeiro?”, “Será que não preciso de
outro tipo de ajuda?”, “Posso eu recorrer a outras entidades para resolver unicamente este ou aquele problema?”,
“Quero tanto passar por outra
experiência espiritual, que não essa que estou vivendo hoje!”. De um modo
geral, creio que essas perguntas podem ser úteis para verificarmos o quanto
estamos crentes em Deus e no seu plano. Mas vejo que nem sempre essas questões
produzem um efeito questionador sadio, mas fazem com que se busquem práticas
“alternativas” ou, no campo das ideias, complementares a nossa fé.
Quero
ressaltar, antes de continuar a dissertar sobre o tema, que não pretendo julgar
ou “apontar o dedo” a ninguém, mas expressar uma reflexão que tive a partir de
falas que ouço e práticas que vejo. Um princípio que penso ser sempre muito
válido é aquele em que cada um de nós deve prestar contas de nossas escolhas e,
portanto, não nos cabe julgar ninguém (sempre orientar, mas não condenar).
A
experiência da fé, no meu entendimento, passa por estágios em que vai se
tornando mais madura e, deste modo, mais completa. Assim como o amor, a fé
cristã precisa de um verdadeiro desejo de vivê-la seguida de uma experiência
real de sua expressão. Não basta dizer “tenho fé”, não basta rezar a profissão
de fé: é preciso, acima disto, saboreá-la, senti-la realmente. No contato
verdadeiro e único com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria ou com a
aprendizagem pela vida dos santos, provamos de uma fé forte e movedora de
montanhas. Mas não basta que nos permitamos essa fé apenas uma vez, mas que
cotidianamente ela se reflita em nós.
A
Igreja, embora formada por nós, homens, é impulsionada pela ação santificadora
do Espírito Santo. Nós erramos, Ele não. Nos permitimos falhas, lacunas, enrijecimento,
estagnação; mas o Espírito Santo é dinâmico, sempre “fogo novo”, é completo e
renovador. Se a Igreja é movida por Ele, também ela deve ser dinâmica e nos
acolher nas diversas mazelas que nos afligem. Ao buscarmos externamente o
consolo para nossa alma, penso que estamos negando essa ação divina – como se
clamássemos que nossa fé não deu conta de nos dar suporte, de nos auxiliar, de
nos acalmar o coração ou incendiá-lo.
Estimados, se vivemos
verdadeiramente esta experiência de fé, não precisamos de nada além do
Salvador, não precisamos “prever futuro”, pois o que nos aguarda é certeza
garantida de nossa fé e boas obras: a Morada Eterna. Não precisamos de outro
que tire o peso de nosso fardo, senão Aquele que carregou os pecados do mundo
em seus próprios ombros. Não precisamos oferecer nada à entidades, pois o único
merecedor de nossas ofertas, doou-se ao Pai. Que antes de buscar no além-fé o
conforto que precisamos, saibamos abrir nosso coração para deixar crescer a fé
e a força que o Criador infundiu em nós pelo batismo e pela comunhão legítima
do Corpo de Cristo. Um abraço e até a próxima.
(Publicado no Jornal Nossa Igreja Católica da Basílica Nossa Senhora do Patrocínio)