terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sobre amar e preconceito


         O maior mandamento deixado por Cristo versa justamente sobre amor: que nos amemos mutuamente como Ele nos amou. Pode parecer algo simples, se pensamos naqueles que correspondem a esse amor ou que nos são queridos. Contudo, nossa natureza humana pode barrar esse amor direcionado ao outro pelas diferenças que ele apresenta.
            Quando ouvimos falar de alguém, geralmente traçamos um perfil de como essa pessoa pode ser, quais são suas principais atitudes, valores, crenças (tudo isso com base naquilo que aprendemos a considerar como sendo valoroso e correto). Acontece que, em alguns casos, essa imagem primária pode ser frustrada no encontro com o real já que o outro pode ser diferente daquilo que idealizamos ou que queremos.
            As diferenças podem ser dar mais diversas faces: pode ser que a pessoa possua alguma limitação física, algum déficit intelectual, tenha a cor da pele diferente, seja homossexual, seja nordestina, esteja desempregada e por aí vai. Todas as características (dentre inúmeras outras), que compõem a diversidade humana, tal qual a obra divina permitiu acontecer, invés de serem apenas parte da humanidade são tomadas (inclusive por alguns de nós, cristãos) como pontos de estabelecimento das relações interpessoais ­ de maneira negativa.
            A grande questão que essa atitude preconceituosa (ou seja, estabelecida por nossos conceitos anteriores e que podem não mudar no contato com a pessoa em foco) vai diretamente contra o mandamento, o direcionamento de vida cristão de que falei no início do texto. Fica, ao menos para mim, parecendo que nossa fé, nossa vida cristã, torna-se uma vivência falsa e sem fundamentos, já que não seguimos o norteador básico de nossa fé.
            Claro que falo aqui de um amor à pessoa e, por consequência, à Deus que lhe habita a alma. É aquele antigo ditado que diz que devemos amar o pecador, mas não o pecado. Ou seja, faz parte desse amor cristão conversar, entender e orientar a pessoa que não apresente uma postura coerente com a prática cristã.
            Deste modo, estimados, devemos cuidar com o que falamos e fazemos, pois estamos sempre sendo observados pelas pessoas, que podem tomar nossas atitudes e palavras para construir falsas ideias e críticas sobre o quanto (possivelmente) destoam nossa prática e nossa fé. As obras, por acaso são o espelho concreto do que cremos e por ela mostramos ao mundo o quanto é bom ser quem somos. E não podemos nos esquecer de que somos modelo para as crianças, que estão construindo personalidade e valores e que são atores da sociedade, em breve.
            Por fim, ao vermos um ato preconceituoso (e temos que nos exercitar para que vejamos os nossos próprios), creio que podemos recordar a quem executa tal ato que “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus” (Gn 1, 27) e que, por tanto, as diferenças que nos tornam singulares são parte da imensa gama de expressões do amor divino. Um abraço e até a próxima.

(Publicado no Jornal Nossa Igreja Católica)