Somos
apresentados a vários padrões sociais que (devemos) seguir: ditam-nos qual o
corpo que devemos ter, qual o modelo de felicidade que devemos adotar (o que
devemos comprar, ter, exibir), qual deve ser a cor da roupa que vamos utilizar,
qual o melhor corte de tecido, o melhor aparelho eletrônico que devemos possuir,
dentre tantas outras coisas. Não pertencer a este grupo, pode nos fazer: a)
buscar constantemente alcançar este padrão para sair de um suposto estado de
infelicidade; b) deprimir-nos, tirando-nos as forças para tantas outras coisas
(e sermos felizes através da medicação/drogadição de um estado que está sendo
construído pela sociedade capitalista ocidental) e c) fazer-nos apresentar uma
imagem do que não necessariamente somos.
A grande questão por trás disto tudo
é que nos esquecemos quem nos criou, e portanto, nos constituiu tal qual
devemos ser. Deus, nos ensina o Gênesis, nos criou sua imagem e semelhança.
Será então que é necessário que façamos mutações em nossos corpos, em nossas
ideias e valores, que aceitemos situações que não condizem com uma vida cristã,
para que possamos ser aceitos em um determinado grupo? A meu ver, estamos indo
contra a vontade de Deus. Obviamente, que não estou falando das intervenções
que se fazem necessárias para a preservação de nossa saúde (no caso de mudanças
físicas), mas sim da aceitação sem questionamentos de uma imposição.
Ora, se temos que viver sob uma
máscara, não estamos tomando nossas vidas com cuidado – estamos fazendo descaso
com ela, vivendo algo de forma mentirosa, falsa. E isso pode nos trazer
sofrimento e dor, já que não somos em sociedade aquilo que somos em nosso
íntimo, em nosso real ser e, por consequência, não vivemos a plenitude da vida,
pela qual Cristo veio ao mundo.
Então viver uma máscara não afeta
apenas o nível social, ao passo em que ela pode, um dia, vir a cair. Muito além
e, diria, mais importante, fere nosso espírito que, manchado pela mentira,
sente vergonha de Deus. Vergonha, porque sabe que não está vivendo a missão que
Ele nos confiou. Em sua infinita sabedoria, Deus nos criou diferentes,
justamente para que pudéssemos aprender a viver a diversidade de seu amor. Tal
como disse no texto do mês passado, de que Deus nos presenteou com inúmeras
cores para compormos o quadro de nossa vida, ele também nos deu características
singulares; dons, necessidades, corpos, desejos diferentes, que nos tornam
únicos e que, ao mesmo tempo, convergem para o seu plano de amor e salvação,
que devemos empreender ao longo desta caminhada terrestre, para que possamos
gozar, com Ele, dos frutos colhidos que nos serão apresentados no céu.
Então, queridos irmãos, que saibamos
ouvir o chamado do Pai para nossas singularidades e não nos atentemos para os
chamados mundanos de padrões, de máscaras. Que saibamos que somos imagem e
semelhança de Deus e, portanto, podemos sim ser santos e chegar o mais próximo
possível que a humanidade pode estar da perfeição, mesmo em nossas diferenças.
Isso se respeitarmos, a princípio, Deus, depois a nós mesmos e também a nossos
irmãos, como o próprio Cristo disse em seu mandamento maior: “Amai a Deus,
acima de tudo, a teu próximo, como a ti mesmo”.
Texto publicado no Jornal "Nossa Igreja Católica" - www.basilicapatrocinio.com.br