segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ser quem realmente somos


             Somos apresentados a vários padrões sociais que (devemos) seguir: ditam-nos qual o corpo que devemos ter, qual o modelo de felicidade que devemos adotar (o que devemos comprar, ter, exibir), qual deve ser a cor da roupa que vamos utilizar, qual o melhor corte de tecido, o melhor aparelho eletrônico que devemos possuir, dentre tantas outras coisas. Não pertencer a este grupo, pode nos fazer: a) buscar constantemente alcançar este padrão para sair de um suposto estado de infelicidade; b) deprimir-nos, tirando-nos as forças para tantas outras coisas (e sermos felizes através da medicação/drogadição de um estado que está sendo construído pela sociedade capitalista ocidental) e c) fazer-nos apresentar uma imagem do que não necessariamente somos.
            A grande questão por trás disto tudo é que nos esquecemos quem nos criou, e portanto, nos constituiu tal qual devemos ser. Deus, nos ensina o Gênesis, nos criou sua imagem e semelhança. Será então que é necessário que façamos mutações em nossos corpos, em nossas ideias e valores, que aceitemos situações que não condizem com uma vida cristã, para que possamos ser aceitos em um determinado grupo? A meu ver, estamos indo contra a vontade de Deus. Obviamente, que não estou falando das intervenções que se fazem necessárias para a preservação de nossa saúde (no caso de mudanças físicas), mas sim da aceitação sem questionamentos de uma imposição.
            Ora, se temos que viver sob uma máscara, não estamos tomando nossas vidas com cuidado – estamos fazendo descaso com ela, vivendo algo de forma mentirosa, falsa. E isso pode nos trazer sofrimento e dor, já que não somos em sociedade aquilo que somos em nosso íntimo, em nosso real ser e, por consequência, não vivemos a plenitude da vida, pela qual Cristo veio ao mundo.
            Então viver uma máscara não afeta apenas o nível social, ao passo em que ela pode, um dia, vir a cair. Muito além e, diria, mais importante, fere nosso espírito que, manchado pela mentira, sente vergonha de Deus. Vergonha, porque sabe que não está vivendo a missão que Ele nos confiou. Em sua infinita sabedoria, Deus nos criou diferentes, justamente para que pudéssemos aprender a viver a diversidade de seu amor. Tal como disse no texto do mês passado, de que Deus nos presenteou com inúmeras cores para compormos o quadro de nossa vida, ele também nos deu características singulares; dons, necessidades, corpos, desejos diferentes, que nos tornam únicos e que, ao mesmo tempo, convergem para o seu plano de amor e salvação, que devemos empreender ao longo desta caminhada terrestre, para que possamos gozar, com Ele, dos frutos colhidos que nos serão apresentados no céu.
            Então, queridos irmãos, que saibamos ouvir o chamado do Pai para nossas singularidades e não nos atentemos para os chamados mundanos de padrões, de máscaras. Que saibamos que somos imagem e semelhança de Deus e, portanto, podemos sim ser santos e chegar o mais próximo possível que a humanidade pode estar da perfeição, mesmo em nossas diferenças. Isso se respeitarmos, a princípio, Deus, depois a nós mesmos e também a nossos irmãos, como o próprio Cristo disse em seu mandamento maior: “Amai a Deus, acima de tudo, a teu próximo, como a ti mesmo”.

Texto publicado no Jornal "Nossa Igreja Católica" - www.basilicapatrocinio.com.br