quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Certo Principezinho deixou seu planeta e sua rosa para conhecer outras paisagens, respirar outros ares e conhecer pessoas diferentes. Sentia-se só em seu mundo e sua rosa, em sua constância previsível, em seus atos sempre tão bem medidos. O Principezinho respirou ar poluído das grandes cidades, respirou ar de parques arborizados, viu coisas antes desconhecidas. Viu uma Princesinha, conheceu seu reino – como vivia, quais eram seus valores. Eram tão diferentes, às vezes fascinantes. Gostou de ter encontrado essa Princesinha, mas precisou afastar-se dela... Teve que abandonar sua casca-corpórea. Voltou para sua rosa.
A viagem do Principezinho não foi breve. Empenhou-se em conhecer outras coisas e nem percebeu o que vinha carregando em suas vestes. Passando por tantos lugares, nem sempre tão vagarosamente, deixou de notar que aquela brisa que outrora só refrescava o calor ou trazia-lhe lembranças (tão recentes lembranças), estava carregada de pólen, de pequeninas sementes de flores várias que ele nem conhecia o cheiro, a cor, a textura das pétalas; de flores que ele tinha esquecido o quanto eram aprazíveis e lhe embelezavam a estadia no planeta.
Beijou sua rosa com saudades e deitou-se. Dormiu tanto (de tão exausto da viagem que estava!), deixando as vestes por secar no varal... Deixou, sem querer, que a vida lhe preparasse uma surpresa. A chuva molhou a terra. O vento preparou o terreno, lançou as sementes. O sol aqueceu-as e fez-lhes despertar para a vida. As flores nem vieram tão exigentes quanto a Rosa de Saint-Exupery, mas também esperavam pelos cuidados (e quem não gosta de um afago verdadeiro e não-exigido?) do Principezinho, que lhes rega todas as manhãs, ocupa-se durante o dia e a noite põe-lhes a redoma de vidro para protegê-las das fortes correntes de ar de seu planeta, da chuva tenebrosa (porque a chuva branda lhes dá força e vida)... As flores cativaram o Principezinho; ele acredita que cativou as flores-presentes-da-vida. O Principezinho acreditava no que tinha ouvido do Pequeno Príncipe, habitante do asteroide B 612: a raposa disse a este “Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...” e mais “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
O Principezinho viu que não tinha mais só uma rosa. Tinha um jardim florido!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Desígnios de Deus

“Pedi e se vos dará. [...] Porque todo aquele que pede, recebe” (Mt 7,7-8). Pensei em começar essa nossa conversa deste mês, com estes versículos do Novo Testamento, pois eles nos são um convite e tanto! Olhando-os com atenção, temos mais uma prova do amor de Deus para nós: ele nos oferece a sua escuta paterna e nos dá a certeza de que, se pedirmos com fé, receberemos aquilo que estamos pedindo.
            Contudo, o mundo, tal qual vivemos hoje, nos propõe o imediatismo e podemos ter nossa fé abalada. Veja: qual é a regra hoje senão aquela do imediatismo (observe-se o sucesso dos restaurantes de fast food). Tudo o que queremos, tem que ser para já, ou, como numa brincadeira que fazemos às vezes, “para ontem”.
            E no que isto abala nossa fé? Ou qual a relação disto com os versículos que abrem este texto? Jesus nos dá a certeza de que seremos ouvidos se orarmos com fé e o mundo nos diz que temos que ter as coisas hoje. Isso pesa em nossa fé, ao passo que nem sempre somos capazes de entender qual o plano de Deus para nossas vidas. De que forma oramos? Muitas das vezes, queremos que Ele nos ajude “para ontem”, queremos que nossas preces sejam ouvidas e atendidas tão logo fechamos a boca, tal logo ele seja formulado.
            Se, nos dirigirmos a Deus como se ele fosse um “garçom de graças”, que atenderá nossos pedidos tão logo o façamos, creio que estamos errando em dois pontos: o primeiro, diz respeito à nossa relação com Deus e o segundo, à nossa missão; e esses dois pontos estão entrelaçados em nossa oração mais comum: “Seja feita a Vossa vontade”.
            É um erro em nossa relação com Deus, pois não aceitamos nossa posição de criaturas. Não somos nós que iremos forçá-Lo à nossa vontade, não somos nós quem devemos tomar as rédeas de nossa vida e vivê-la como se não dependêssemos de nada, além de satisfazer nossas vontades. É Ele, o Pai que nos criou, que nos perdoa os erros e que nos concede inúmeras graças quem deve ser ouvido, quem deve ver a vontade sendo feita.
            É um erro em nossa missão, porque nem sempre somos capazes de ver, em nossas vidas, o que Deus quer. Não estamos no mundo por simples passagem e não vamos voltar aqui para consertar o que fizemos de errado – é nesta vida, a única que teremos na Terra que temos que seguir a missão que Ele nos deu. E para isso, temos que ouvir sua voz nas orações e buscar em Sua Palavra a melhor forma de viver com os irmãos de caminhada.
            Quando nos abrimos a essas verdades, estamos respeitando os desígnios de Deus, estamos pedindo a graça que esperamos alcançar, mas temos a certeza de que Ele nos permitirá alcançá-la no tempo certo, que nem sempre é o “já” que prega o mundo, nem sempre é o amanhã que é esperamos. Às vezes precisamos ser firmes na fé, enquanto o tempo de Deus, que sabe o que é melhor para nós, se completa.
            E por isso devemos deixar de rezar ou de pedir a Deus alguma graça? Jamais! Devemos sempre confiar em Sua bondade e ter a certeza de que o que pedirmos será concedido, de que se batermos à porta ela nos será aberta, de que se procurarmos, acharemos. Como diz uma música infantil “você pode confiar na bondade do Senhor. Creia e você terá provas de amor”. Até a próxima.


Publicado no Jornal "Nossa Igreja Católica" (www.basilicapatrocinio.com.br)