Fato é que, durante nossas vidas, vamos estabelecendo
laços que nos ajudam a viver e a lidar com as diversas situações
que formam o grande livro de nossa vida. Não consigo pensar em vida
humana desconexa de relações interpessoais: desde nosso nascimento
o outro é importante na nossa construção pessoal e social.
Faço esta exortação, pois, me vi a refletir sobre
algo que escrevi no texto da edição anterior e que pode ser mal
interpretado. Disse que devemos cuidar para não nos vermos
estagnados de nossas mudanças pelos outros, pelo que dizem.
Obviamente, quis dizer que não podemos nos acorrentar à opinião
alheia, mas, em nossa experiência vital, temos que ouvir o outro e
pesar em quê ela nos será útil. E mais, se sairmos de um olhar
individualista, perceberemos que nós também somos “o outro”.
Iniciei o texto dizendo que estabelecemos laços –
nós também somos aqueles que auxiliamos o outro, que damos
conselhos, que falamos, que podemos servir de espelho para alguém. E
aí reside um grande perigo: de que modo nós somos o outro dos
outros. Já disse em outros textos que nem sempre estamos atentos à
forma como afetamos nosso ambiente social. O que gostaria, então, é
refletir com vocês: Quem sou eu, enquanto outro? Pode parecer um
paradoxo, mas parte de um olhar que sai de um “em–si–mesmo”,
autocentrado, para uma visão mais ampla e mais crítica de nossa
vida.
Você já parou para pensar como uma determinada
escolha sua poderá refletir no outro? Como certo comportamento pode
denegrir toda uma construção, todo um laço de confiança, de
afeto, de segurança com que somos estimados por alguém? Meus caros
é tolice achar que nossa vida é única e exclusivamente nossa.
Contradiz, inclusive, o ensinamento de uma vida comunitária, de uma
vida que se doa a serviço do outro.
É fácil viver uma vida, que ao mesmo tempo é
particular e comunitária? Sabemos que não. Mas, tomando uma
experiência pela qual passamos e nem sempre nos recordamos: foi
fácil equilibrar–se nos primeiros anos de vida, sobre as duas
pernas e ir rumo ao que desejávamos (o colo de alguém, por
exemplo?). Caímos, ralamos o joelho, mas hoje (salvo alguma
alteração física que nos impeça) caminhamos com facilidade.
Assim, é no exercício cotidiano que vamos nos
aperfeiçoando na arte de viver. Vamos aprender com nossos erros,
vamos conseguir mudar, enquanto nos permitirmos viver, sabendo que é,
muitas vezes, na dor que conseguimos arredondar as arestas que
machucam nosso caminhar e nos impedem de crescer.
Finalizando
nossa conversa, gostaria que vocês pudessem parar um momento, fazer
uma análise própria e pensar: Quem sou eu para meus “outros”?
Que tenho feito com os afetos que me são confiados? Que modelo tenho
sido? Sei, na medida do possível, como afeto quem está perto de
mim, quem me quer bem? Escreva sobre isso, ainda que seja apenas para
você. Retome essa reflexão de tempos em tempos. Você pode se
surpreender com os resultados que pode ter. Pensem com carinho e se,
se sentirem à vontade, compartilhem a experiência. Um abraço e até
a próxima.
(Texto publicado no Jornal "Nossa Igreja Católica", edição de agosto/2012)
3 comentários:
bela reflexão...
acho que todos devemos fazer essa auto-análise... nos faz pensar melhor sobre nós e nossas vidas!
Um texto de perfeito entendimento e maravilhosa explanação. Parabéns!!
Em breve vou postar um texto-resposta a este, pois me deixou ansioso por comentar tal analise do "eu" e "nós".
Inclusive, não posso perder a oportunidade de comentar o 3°paragrafo - a questão da reflexão pessoal - que ao fazer analise de como você se vê e é visto a desconstrução mental e física faz parte deste processo.
A partir do momento que paradigmas e conceitos andem em linha paralela ao que estamos avaliando, aí que conseguimos ampliar a mente e criar um novo modelo seres humanos.
É claro que tais conceitos e regras devem fazer parte do "eu", no entanto, não permitir que isto seja o impecílio para que você explore sua religião, sexualidade, vida pessoal e comunitária em geral.
Olá Pri e Jota!
Que bom que gostaram do texto. Realmente é um momento para pensarmos e refletirmos sobre nossa vida e nossas ações sobre o mundo...
Obrigado por sempre acompanharem o HC!
E Jota, aguardo, ansiosíssimo, seu texto-resposta!
Beijos =*
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