segunda-feira, 10 de julho de 2017

Pra ti

Ela se negava, se deixava conduzir
Erguia os olhos para olhar o horizonte que ele falava
Tocar o que ele descrevia, sentir os cheiros que ele sentia
Esquecia-se de si.

Ela pensava, mas não dizia
Era melhor concordar com cada vírgula
Fazer as pausas que o ponto-e-vírgula ordenavam
E deixar suas reticências no ar.

O seu dito? – Porque às vezes dizia –
Bem, estes eram ouvidos, mas não escutados:
O dia foi corrido, o trabalho puxado
Os olhares perdidos e o rosto manchado.

Resignava-se ser presença
Sorrir.
Beber.
Ouvir.

A troco de que?
A troco de um real ou dois de atenção
Um sorriso no cair da noite,
Um acalento numa tarde chuvosa.

Era pouco ela sabia,
Mas aprendeu a tirar o melhor que podia
E se era a (pouca) companhia
De bom grado a tomaria pelo braço, e seguiria a vida
Nas noites estreladas,
Nos dias ensolarados,
Nas tardes nubladas.

Reconhecimento já não queria,
Apenas tê-lo por perto.

Apenas amando aquilo que ele dizia: “é pra ti”.

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