As
crianças despertam-nos muitos sentimentos positivos: esperança, amor, carinho,
paz, alegria etc. São tidas, em geral, como o “futuro”, aqueles que irão dar
continuidade ao que fazemos no hoje ou que usufruirão dos bens que estamos
conquistando, construindo ou das lutas que fazemos por um mundo melhor.
Podemos fazer uma pequena crítica a
essa afirmação: temos, proporcionalmente à capacidade da pessoa (da criança, no
caso), que inseri-la na vida cotidiana. Não podemos deixar que ela seja sempre
“futuro”, mas ensiná-la a ser atora da sua própria história no hoje. E, para
que isso aconteça, vem o ponto que pretendo refletir com vocês neste artigo.
Sabemos que a vida social, como
estamos vivendo atualmente, exige dos pais que saiam do lar em busca do
sustento da família; diferentemente de algumas décadas atrás em que a maioria
das mulheres permanecia em casa para o provimento das atividades domésticas e
educação dos filhos, vemos que hoje ambos os pais precisam trabalhar para dar
manutenção às necessidades familiares. Essa saída implica, em alguns casos, do
distanciamento (ou diminuição) do tempo em que os pais passam com seus filhos,
afetando diretamente a qualidade da relação pais-filhos.
Sem a presença dos pais, as crianças
ficam entregues à televisão, à internet, ao brincar (sozinha) ou mesmo à
solidão (por mais absurda que possa parecer essa imagem, não é difícil
imaginar: a criança fica só em um cômodo da casa, enquanto os pais precisam
fazer faxinas, refeições, pagar contas etc). Uma problemática que advém dessa
situação é que os pais, ausentes de uma parcela do desenvolvimento dos filhos,
deixando de acompanhar seu crescimento, ideias, argumentações, relações e
falas, passa a desconhecer aquele que gerou e surpreende-se com o que os filhos
são capazes de fazer (podendo ser ações socialmente aceitas ou não).
O ponto em questão é: quais
criancinhas eu deixo ir? De que forma eu tenho contribuído para o
desenvolvimento saudável das crianças? Qual educação eu permito que elas tenham
acesso? Quais valores e crenças eu tenho ensinado? Embora o microssistema da
criança seja a família, essa reflexão expande-se para avós, tios, educadores,
religiosos, cuidadores – ela abarca todos os que de alguma forma tem contato
com as crianças.
Se estivermos atentos a esses e
outros fatores que influem o desenvolvimento infantil, é muito provável que
teremos uma relação melhor com elas, com os adolescentes que se tornarão e
encontraremos adultos que guardam em si a criança que foram e que continuarão a
produzir embates por um mundo digno, justo, pacífico e harmonioso. Um abraço e
até a próxima. (Texto publicado no Jornal Nossa Igreja Católica)
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